POR FERNANDO BRITO - À falta de resultados e, sequer, de programas conhecidos de reorientação da economia, os “analistas de mercado”, sem ter o que mais festejar, comemoram a “melhora das expectativas” da economia.
É óbvio que, como em qualquer atividade, a confiança é elemento importante no sucesso ou no fracasso. Até no futebol, a gente sabe que quem vai numa bola dividida sem convicção de que vai ganhar o lance quase que sempre perde a disputa.
Quais são, então, as boas expectativas para a economia brasileira? O ajuste das contas públicas?
Percam as esperanças, senhores. Os fatos mostram o contrário.
O mau desempenho da economia havia feito Dilma Rousseff pedir ao Congresso a revisão para cerca de R$ 100 bilhões para o déficit público esperado. Ainda assim, com a perspectiva de que, desta ampliação, parte significativa fosse contingenciada, isto é, bloqueada para ser gasta apenas em caso de colapso de alguma atividade estatal.
Temer chegou e, de imediato, quase dobrou a infeliz meta: passou a R$ 170, 5 bilhões.
Sem contingenciamento e já com algumas suspeitas de que não será o suficiente.
E já avisou que vai repetir a dose em 2017, com déficit previsto de R$ 139 bilhões.
Não precisa de economês: some 139 bi com os 20 que deixaram de entrar com a moratória nas dívidas estaduais, os 3 que foram para salvar o Rio nas Olimpíadas e você tem R$ 162 bilhões, quase o mesmo rombo previsto para este ano. E contando com entradas de recursos por uma privatização levada à irresponsabilidade.
Veja: imaginando que não haja, outra vez, despesas extraordinárias e que, ao contrário, haverá receitas extraordinárias (de novo, para os não versados: extraordinário é não repetível, eventos únicos) o déficit estrutural fica ainda pior.
Isso com a esperada limitação dos gastos públicos obrigatórios com os de saúde e educação, prevista na tal PEC 241 que é a prioridade absoluta fazer aprovar no Congresso.
Mas então porque que se elevam as expectativas do mercado, dos financistas e empresários?
Eles não são tolos, não são imbecis embora, em larga medida, seu olhar pouco alcance além dos balanços, dos extratos e dos saldos bancários (ou dos, como diria Eduardo Cunha, dos trustees).
Porque eles apostam, e não sem razão, que o Brasil mudou de rumo e que o arrocho promovido pela gestão Levy – muito mais duro, até que o arrocho zero de Temer até agora – era transitório (o que não o exime de ser “burro”) e o de agora é uma reorientação estratégica do Estado.
O projeto de minimização do Estado e das suas responsabilidades sociais é uma evidente promessa e, por ela, vale a pena suportar o engulho de ter um traste como o atual no comando do país.
Laura Carvalho, na Folha de hoje, observa:
A simples expectativa de redução do tamanho do Estado nos próximos 20 anos teria o poder mágico de tornar irrelevantes eventuais desajustes fiscais de curto prazo, autorizando afrouxamentos monetários.
Foi, em boa parte, o que se passou na construção do apoio maciço a Fernando Henrique Cardoso.
Embora com grandes semelhanças – a sustentação da totalidade da mídia e a vaidade doentia nas quais FHC e Temer são quase irmãos – há imensas diferenças, porém.
O tucano tinha a vitória eleitoral, a presidência conquistada nas urnas, e a queda abrupta da inflação a legitimá-lo.
Temer, evidente, não tem.
No curto prazo, vai queimando seu crédito, o “período de carência” que as classes dominantes deram a um político provinciano, atrasado e medíocre. Nem novidade é, a Collor também deram, antes de jogá-lo fora. Está inebriado com sua própria genialidade e gastando como um herdeiro perdulário, ao ponto de que Janio de Feitas observa hoje que entre as medidas fiscais mais desjadas por Henrique Meirelles, a maior é “um teto para Temer”.
A dívida, porém, tem de ser paga e será impiedosamente cobrada.
Dele e, através dele, em direitos sociais do povo brasileiro.
Confira também, Karnal: Dilma caiu apenas por não controlar congresso corrupto
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