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Após todas as revelações em áudios. Como o STF ainda deixa Romero Jucá solto?

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O senador Romero Jucá (PMDB-RR), se licenciou do cargo que assumiu no governo Temer e retornou ao Senado Federal como se nada tivesse acontecido.


Jucá disse que apresentará ao Ministério Público Federal (MPF) um pedido formal para que seja feita rápida manifestação sobre o caso das gravações divulgadas Folha de S.Paulo que o envolvem. Ele ressaltou que, dependendo do resultado do MPF, voltará ou não para o ministério.


De acordo com informações de deputados e senadores que desde cedo acompanharam de perto o desenrolar do caso, a saída do ministro do Planejamento foi definida no final da manhã, mas faltava ser encontrada o que muitos peemedebistas chamaram de “solução honrosa”. Isso porque o que se esperava era uma forma de não prejudicar ainda mais o senador e evitar mais arranhões à sua imagem e ao governo Temer – diante de declarações feitas por ele de que não deixaria o cargo. Jucá recuou, mas com o discurso de que não estava saindo em definitivo.

Outra informação divulgada por assessores do Palácio do Planalto são de que no início da manhã ainda existia uma preocupação, por parte de Temer, em tentar manter o senador na pasta, uma vez que interino o considera um grande aliado e o vê como um parlamentar que teve atuação importantíssima nas negociações que levaram ao afastamento de Dilma Rousseff e o conduziram ao poder.

A situação teria mudado, entretanto, depois da divulgação da íntegra das gravações, mostrando que, ao contrário do que sustentou o senador, as denúncias são bem mais graves. Jucá tentava argumentar, desde a noite de ontem, que quando falou em “pacto”, na conversa, referiu-se a uma forma de fazer a economia andar no país, evitando que os programas e ações ficassem paralisados por conta das investigações da Lava Jato.

O senador chegou a afirmar que parte da fita teria sido “editada” para incriminá-lo e manipular uma má imagem sua. Só que a íntegra da conversa deu a entender, segundo membros do MPF e até integrantes do Executivo, que o pacto mencionado por Romero Jucá era, mesmo, uma forma de, com a subida de Temer para o Planalto, blindar os políticos nas denúncias da operação.

Brasil ‘tomado de assalto’

Na opinião do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), o teor do áudio do ministro do Planejamento, Romero Jucá, é mais grave do que o revelado em novembro de 2015, do ex-senador Delcídio do Amaral. “Esse governo, na verdade, não é um governo, é uma quadrilha. O país foi tomado de assalto por uma quadrilha. Esses áudios só mostram isso. Foi dado um golpe e vieram para institucionalizar a corrupção. É um bando de salteadores que se apresentou ao pais como aqueles que queriam salvar o país da corrupção, mas na verdade estão mergulhando o país mais fundo no poço da corrupção”, diz.

Segundo ele, Delcídio do Amaral, “na sua bravata”, dizia que queria subornar uma testemunha, já o Jucá diz que queria parar a Lava Jato toda, pelo menos em relação aos investigados do PMDB. “O que chama a atenção também é que, ao que parece, esse áudio já estava à disposição do procurador-geral da República, e eu fico imaginando se fosse alguma liderança do PT protagonizando isso, já teria vazado há muito tempo”, afirma Damous, com uma ressalva: “Não que eu passe a defender vazamentos. Eu sou contra vazamentos. O que ocorre é que há uma seletividade nos vazamentos”.

Para Damous, diante da revelação do áudio, cabe ao Senado reavaliar o processo do impeachment, no mérito. “Se a maioria do Senado tiver um mínimo de dignidade, vota logo o mérito desse processo e devolve a cadeira que é de direito da presidenta Dilma, que foi eleita por 54 milhões de votos”, diz o deputado, que é suplente e retomou o mandato após licença médica de Benedita da Silva (PT-RJ).

Segundo o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), seu partido ingressará com ação na PGR nesta segunda-feira (23), pedindo a prisão de Jucá.

Em entrevista ao Valor Econômico, o senador Telmário Mota (PDT-RR), relator do processo de cassação de Delcídio do Amaral, disse que vai entrar amanhã (24) no Senado com um processo de cassação de Romero Jucá.

Entenda o caso

Jucá foi flagrado numa conversa com o ex-diretor da Transpetro e ex-senador Sérgio Machado, na qual ele fala em “pacto” para parar com a Operação Lava Jato, na importância de Michel Temer assumir a Presidência da República e dá a entender, inclusive, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também participou do esquema de propina da estatal.

Segundo a reportagem inicialmente divulgada pela Folha de S.Paulo, as conversas, que estão em poder da Procuradoria-Geral da República, ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Machado se mostra preocupado com o envio do seu caso para a PF de Curitiba e chegou a fazer ameaças: “Aí f…. Aí f… para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer’…”.

Jucá concorda que o envio do processo para o juiz Sérgio Moro não seria uma boa opção e o chamou de “uma ‘Torre de Londres'”, em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá “para o cara confessar”.

Por sua vez, Jucá afirma que seria necessária uma resposta política: “Tem que resolver essa p…. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá. Ele acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado concorda: “aí parava tudo”.

Na conversa, eles dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha. “Só Renan que está contra essa p… porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, p…”, afirma Jucá no diálogo gravado.

“O Renan reage à solução do Michel. P…, o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. ‘Michel, vem cá, é isso, isso e isso, vai ser assim, as reformas são essas'”, diz Jucá a Machado.
Leia abaixo trechos dos diálogos gravados entre Romero Jucá e Sergio Machado

SÉRGIO MACHADO – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO – Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ – Sim.
MACHADO – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ – Eu acho que…
MACHADO – Tem que ter um impeachment.
JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO – E quem segurar, segura.
JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO – Odebrecht vai fazer.
JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
[…]
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[…]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
[…]
MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

***

MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…
MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[…]
MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…
MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
JUCÁ – Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.
JUCÁ – Não, o tempo é emergencial.
MACHADO – É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO – Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO – Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

***

MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…
JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…
JUCÁ – É, a gente viveu tudo.

***

JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MACHADO – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava Jato].
JUCÁ – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento…
MACHADO -…E burro […] Tem que ter uma paz, um…
JUCÁ – Eu acho que tem que ter um pacto.
[…]
MACHADO – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ – Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].

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