DCM - Esta matéria está sendo republicada por motivos óbvios
Se é autêntica e sem edição a gravação que Joesley Batista fez da conversa com Michel Temer, como apontou a perícia da Polícia Federal, a pergunta inevitável é: qual foi o propósito da Folha de S. Paulo quando noticiou em manchete o resultado de uma perícia particular que ela mesma contratou que apontava edição do áudio?
O laudo da Folha foi divulgado dois dias depois da revelação da gravação de Joesley, no auge da repercussão do caso. “Áudio de Joesley entregue à Procuradoria tem cortes, diz perícia”, destacava a manchete do jornal, que Temer usou para se defender, num pronunciamento à Nação:
— Registro que eu li hoje notícia do jornal ‘Folha de São Paulo’ de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos. Incluído no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil.
Logo o trabalho do perito contratado pela Folha ficou desacreditado: ele fez em um dia estudo que um profissional minimamente sério levaria semanas. Usou equipamento de baixa qualidade, produziu um texto com erros de português e soube-se que inflava o currículo com informações não verídicas. Não era apenas perito, era também corretor de imóveis.
Michel Temer e Joesley eram até então os únicos que sabiam da veracidade da gravação. Mas Temer, ancorado na Folha, partiu para o ataque. Nos dias seguintes, avançou no seu projeto de reforma trabalhista e previdenciária na Câmara dos Deputados.
Se ajudou decisivamente Michel Temer, numa situação difícil, a perícia da Folha produziu outro resultado: evidenciou que a grande (ou velha) imprensa já não marchava unida, como fez na cobertura que levou ao golpe de 2016.
Nitidamente era possível ver Globo de um lado, Folha, Estadão e Bandeirantes de outro. Essa divisão continua, situação que remete a um trecho do livro A Radiografia do Golpe, do sociólogo Jessé Souza, que usa uma imagem de filme para definir o que aconteceria depois da violência institucional que legitimou a queda de Dilma:
“Como todo espectador de filme de gângster sabe muito bem, é fácil juntar aventureiros para assaltar um banco. Difícil é dividir o saque depois. Esse é precisamente o momento que estamos vivendo agora. O que fazer com o butim do assalto à soberania popular?”
Fácil de entender, difícil de aceitar.
Comentários
Postar um comentário